Oscarito foi um ator espanhol naturalizado brasileiro, que fez história no cinema nacional com suas chanchadas, filmes de humor que satirizavam a sociedade e a política da época. Ele ficou famoso pela dupla que formou com Grande Otelo, outro ícone do riso, em mais de 30 filmes dirigidos por Carlos Manga e Watson Macedo. Oscarito também atuou no teatro, na televisão e na música, e foi um dos artistas mais populares e queridos do Brasil.
O início no circo e no teatro
Oscarito nasceu em Málaga, na Espanha, em 16 de agosto de 1906, com o nome de Oscar Lorenzo Jacinto de la Inmaculada Concepción Teresa Díaz. Ele era filho de um pai alemão e uma mãe portuguesa, que faziam parte de uma família de circenses com mais de 400 anos de tradição. Com apenas um ano de idade, ele veio para o Brasil com seus pais, que se instalaram no Rio de Janeiro. Oscarito começou sua carreira no circo aos cinco anos, interpretando um índio na adaptação da obra O Guarani, de Carlos Gomes. Ele aprendeu a tocar violino e também foi palhaço, acrobata e trapezista. Ele se destacava pela sua graça, sua expressividade e sua versatilidade.
Oscarito também se interessou pelo teatro, e em 1932, estreou na peça Calma, Gegê, que fazia uma sátira ao presidente Getúlio Vargas, que havia chegado ao poder com a Revolução de 1930. A peça foi um sucesso, e Oscarito chamou a atenção do público e da crítica com seu talento cômico. Ele continuou atuando em outras peças de teatro de revista, um gênero que misturava música, dança, humor e crítica social, e que era muito popular na época. Ele também se tornou amigo de Getúlio Vargas, que admirava seu trabalho e o convidava para se apresentar no Palácio do Catete.
A estreia no cinema e a parceria com Grande Otelo
Oscarito fez sua estreia no cinema em 1935, no filme Noites Cariocas, dirigido por Joracy Camargo. Ele fez uma pequena participação como um garçom, mas já mostrou sua presença de cena e sua veia humorística. No mesmo filme, ele contracenou pela primeira vez com Grande Otelo, que também era um ator de teatro de revista, e que se tornaria seu grande parceiro nas telas. Os dois se identificaram pela origem humilde, pela paixão pelo circo e pelo teatro, e pelo estilo de comédia baseado na improvisação, na ironia e na paródia.
Oscarito e Grande Otelo fizeram mais alguns filmes juntos, mas foi em 1949, com o filme Carnaval no Fogo, dirigido por Watson Macedo, que eles consolidaram a dupla que marcaria o cinema brasileiro. No filme, eles interpretaram Romeu e Julieta, respectivamente, em uma versão cômica da clássica história de amor de William Shakespeare. A cena em que Oscarito se vestia de mulher e se declarava para Grande Otelo no balcão foi uma das mais hilárias e memoráveis do cinema nacional.
A partir daí, Oscarito e Grande Otelo fizeram mais de 30 filmes juntos, todos produzidos pelos estúdios da Atlântida, a maior empresa cinematográfica do Brasil na época. Eles eram dirigidos por Carlos Manga, que criava roteiros absurdos e divertidos, que exploravam o contraste entre os dois atores: Oscarito era branco, gordo, careca e falava enrolado; Grande Otelo era negro, magro, cabeludo e falava rápido. Eles também se inspiravam em outros humoristas do cinema, como Charles Chaplin, Buster Keaton, Laurel e Hardy, e Cantinflas.
Entre os filmes que Oscarito e Grande Otelo fizeram juntos, destacam-se: É Com Esse Que Eu Vou (1950), em que eles se disfarçavam de mulheres para fugir da polícia; Aviso aos Navegantes (1950), em que eles se envolviam em confusões a bordo de um navio; Barnabé, Tu És Meu (1951), em que eles interpretavam dois empregados de um milionário; Nem Sansão Nem Dalila (1954), em que Oscarito vivia um barbeiro que se transformava em Sansão ao tomar uma poção; O Homem do Sputnik (1959), em que eles se aproveitavam da chegada do satélite soviético ao Brasil; e Os Dois Ladrões (1960), em que eles eram dois bandidos que se tornavam heróis.
Os filmes de Oscarito e Grande Otelo eram chamados de chanchadas, um termo que significa algo de má qualidade, mas que também se refere a um gênero de comédia tipicamente brasileiro, que fazia sucesso entre as décadas de 1930 e 1960. As chanchadas eram filmes de baixo orçamento, que misturavam humor, música, dança, romance e aventura, e que satirizavam a sociedade e a política da época. As chanchadas eram vistas como uma forma de escapismo e de diversão para o público, que enfrentava problemas como a pobreza, a violência, a censura e a ditadura.
Os outros trabalhos e o fim da carreira
Além das chanchadas, Oscarito também fez outros tipos de filmes, como dramas, musicais e infantis. Ele também atuou no teatro, na televisão e na música. Ele montou sua própria companhia teatral, que excursionou pelo país inteiro, e também compôs algumas marchinhas de carnaval, sendo a mais famosa a Marcha do Gago. Ele também participou de programas de TV, como o Grande Teatro Tupi, o Teatro de Comédia e o Teatro de Vanguarda.
Oscarito fez seu último filme em 1968, Jovens Pra Frente, dirigido por Aurélio Teixeira. Ele interpretou um padre que ajudava um grupo de jovens a se livrar de um bandido. Depois desse filme, ele se afastou da vida artística, por motivos de saúde e de descontentamento com o cinema brasileiro, que entrava em crise com o surgimento da televisão e da censura.
A vida pessoal e a morte
Oscarito foi casado com Margot Louro, uma atriz que conheceu no teatro de revista, e com quem teve dois filhos, José Carlos e Miriam. Ele era um homem simples, generoso e religioso, que gostava de viver em família e de ajudar os amigos. Ele também era um homem culto, que falava cinco idiomas e que lia muito. Ele era fã de artistas como Charles Chaplin, Cantinflas, Carmen Miranda, entre outros.
Oscarito morreu no Rio de Janeiro, em 4 de agosto de 1970, aos 63 anos, vítima de um derrame cerebral. Ele havia se machucado ao fazer um salto que costumava fazer em suas apresentações, e foi internado em coma. Seu corpo foi velado no salão nobre da Assembleia Legislativa da Guanabara, com a presença de mais de duas mil pessoas. O enterro levou cerca de quinhentas pessoas ao Cemitério São João Batista. Oscarito foi homenageado por vários artistas, como Grande Otelo, que disse: “Ele foi o maior ator cômico do Brasil. Era um gênio. Era meu irmão”.
A importância e o legado de Oscarito
Oscarito foi um dos maiores humoristas do cinema brasileiro, e um dos artistas mais populares e queridos do país. Ele fez parte de uma época de ouro do cinema nacional, que produziu filmes divertidos, criativos e críticos, que refletiam a cultura e a identidade do povo brasileiro. Ele também foi um dos pioneiros da comédia no Brasil, que influenciou gerações de comediantes, como Chico Anysio, Renato Aragão, Jô Soares, Paulo Silvino, entre outros.